DIFERENÇAS ENTRE PORTUGAL E INGLATERRA SÃO “IMENSAS”

A qualidade de vida de que hoje Clara Gomes desfruta tem um valor inestimável. A falta de apoio à deficiência foi a alavanca para sair de Portugal, acompanhada pelo marido e quatro filhos, dois deles deficientes. Natural da Fogueira, Sangalhos, viveu oito anos em Oliveira do Bairro antes de se mudar para uma pequena cidade, a 20 quilómetros do centro de Londres, Inglaterra.
Durante 11 anos, Clara Gomes (hoje com 40) esteve ligada à informação médica. Mas é em 2010/2011 que dá asas a um sonho. O sonho do cake design. Fez nessa altura formação com conceituadas cake designers ; tornou-se sócia da Associação Nacional de Cake Designers. O objetivo, esse, está traçado desde então: “quero um dia criar uma empresa na qual possam trabalhar os meus dois filhos deficientes e outras pessoas com deficiência”.
Em Inglaterra, Clara Gomes encontrou uma perspetiva de futuro profissional e até social para os seus filhos deficientes que em Portugal diz nunca ter sentido. “Em Inglaterra há de facto um forte investimento do governo e de instituições de caridade no cidadão deficiente.” No caso específico dos seus filhos, beneficiam de acompanhamento permanente de professores especializados, terapia ocupacional e motora, frequentarão em breve uma escola de equitação em exclusivo para pessoas com deficiência. E muitas outras atividades, presentes no currículo escolar e fora dele, sempre visando a sua independência e uma eficaz inserção social e profissional.
Mas as diferenças entre Portugal e Inglaterra não se esgotam aqui. Pelo contrário, “são imensas”, frisa a bairradina. Para além das óbvias – língua e gastronomia – também e principalmente o método de ensino, o sistema nacional de saúde, o acesso à cultura e outra, que salta à vista: a base da pirâmide etária. “Enquanto em Portugal a natalidade foi estrangulada pela falta de apoio do governo, aqui nascem imensas crianças, aliás deu-se um verdadeiro babyboom desde que o então primeiro-ministro Tony Blair implementou as políticas de apoio à natalidade.” Em Inglaterra, acrescenta Clara Gomes, não há infantários nem escolas primárias a fechar, pelo contrário, “as escolas estão cheias de crianças e para entrar no infantário há lista de espera”.

Tempo de qualidade para os filhos

No novo destino, Clara, neste momento mãe a tempo inteiro, admite ter tempo de qualidade para os filhos. “Em cada canto há um parque onde podemos fazer um piquenique, levar as crianças aos baloiços e conviver com outros casais e crianças.”
Na cidade onde moram, não vivem portugueses. A quem pretende emigrar, aconselha uma forte aposta na certificação do nível de cada língua estrangeira em escolas devidamente reconhecidas. E nada de partir “à toa, sem quaisquer perspetivas de emprego”. Clara está agora a reunir material para um livro que pretende editar dentro de dois anos.
Portugal, diz, é atualmente “um país triste e acomodado, sem qualidade de vida, onde as famílias têm cada vez menos tempo para estarem juntas e perdem a cada dia, poder de compra”. Ainda assim, Clara Gomes não esquece o seu cantinho. “As nossas raízes são sempre as nossas raízes. Sinto saudades da família, dos amigos e da comida, sobretudo do leitão à Bairrada e do bacalhau. Saudades dos dias e noites quentes de verão. Do sol. Da praia e do cheiro a mar.”
Gostava de ficar dez anos em Inglaterra e depois voltar. Mas o futuro é uma incógnita. “Se tivermos condições para manter uma qualidade de vida aceitável, regressamos. Caso contrário teremos que aguardar pela nossas reformas.”
Oriana Pataco


Diário de Aveiro


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