RUI FRANÇA E A MANUTENÇÃO

Rui França foi sempre um treinador convicto das suas ideias. Ao aceitar, no último terço do campeonato, o convite da direcção do Oliveira do Bairro, mostrou, desde logo, não ter medo do eventual risco que podia correr. A equipa estava acima da linha-de-água, nada tranquila na tabela classificativa, o desafio era enorme, o abanão na estrutura era fundamental. Rui França, em catorze jogos à frente da equipa bairradina, conseguiu cinco vitórias, oito empates e apenas uma derrota. Fez 23 pontos, contra os 25 que a equipa tinha quando chegou, fazendo um total de 48 pontos, suficientes para a tão desejada manutenção, o principal objectivo, e o 12.º lugar final no campeonato. Com um novo treinador muita coisa muda. Rui França prefere entregar os louros do sucesso aos jogadores. A confiança que transmitiu ao grupo de trabalho foi um dos pontos fulcrais para o bom desempenho da equipa na recta final do campeonato. Através da dita confiança, o técnico bairradino conseguiu recuperar alguns jogadores. O caso mais flagrante foi o de Fernando Gomes. Jogava pouco, quando jogava não rendia mas, com Rui França, o avançado brasileiro conseguiu marcar golos, alguns decisivos e tornar-se o melhor marcador da equipa. Outro dos pontos, mas sobre o qual o treinador não se quis pronunciar foi sobre a forma como teve todo o grupo na mão. Não sabemos se blindou ou não o balneário. Tudo funcionou com um grupo e não foi preciso marcar distâncias. Este foi também um dos aspectos importantes para o sucesso de um treinador que não teve medo de arriscar nos mais jovens, como também gostava de continuar, na próxima época, no Oliveira do Bairro. PLANTEL COM QUALIDADE Rui França fez o último terço do campeonato. Tirou o clube da situação difícil em que se encontrava, recuperou jogadores, pô-los a praticar bom futebol, foi audaz e arrojado nos jogos fora de casa, teve leitura táctica e destreza nos momentos certos. Por tudo isto e mais alguma coisa, as primeiras palavras foram as seguintes: “Senti-me aqui como o peixe na água. Fui bem recebido, por gente simples, ao meu nível, logo, só me podia sentir bem”. Agora a entrevista na verdadeira acepção da palavra. -Foi ou não um risco esta aposta? -Não foi, estou habituado. A própria vida é um risco. Se uma pessoa não corre riscos não tem o prazer de sentir as coisas. -Qual foi o segredo? -Não há segredos no futebol. Quando há uma chicotada psicológica algo está mal. De quem é culpa? É de todos. É quase como um divórcio, a bola que bate no poste e não entra, o penalty que ficou por assinalar. O futebol é feito de golos e quando não entram a culpa é do treinador. No Oliveira do Bairro, se calhar, foi sentir os jogadores, deixá-los jogar o que eles sabem. Não ia ensinar nada a ninguém, pois são atletas com grande traquejo no futebol. Corrigi, aqui e acolá, algumas coisas e, depois, esperar ter a sorte do nosso lado. -Quando sentiu que ia dar a volta por cima? -É sempre relativo fazer uma análise desse tipo. Observei o plantel, vi a qualidade dos jogadores e apercebi-me que, mais tarde ou mais cedo, iríamos sair daquela situação. O plantel dava garantias e o factor sorte, que é sempre necessário nestas coisas, esteve do nosso lado. -Uma das suas armas foi recuperar alguns jogadores com falta de confiança, casos de Fernando Gomes, Leandro, Luís Barreto, entre outros… -Quando há uma chicotada psicológica, por vezes, há uma crise de confiança. Foi muito importante ter ganho o primeiro jogo contra o Pombal. Os níveis de confiança dispararam logo. Daí para a frente foi dar tranquilidade aos jogadores, incentivá-los ao máximo. Motivação tinham eles, daí a boa recuperação. Falou-me de vários jogadores. Nomeio o caso do Fernando Gomes. Era um jogador que me dava garantias, jogou, marcou golos, ganhou confiança com os golos e as vitórias. -Acha que a chave da recuperação esteve na prestação da equipa nos jogos fora? -Sempre entrámos em campo para discutir os três pontos. Jogámos contra equipas que jogavam um futebol aberto, davam mais espaços e, com a qualidade do nosso futebol (do deixar jogar) conseguimos explanar o futebol que sabíamos, de pé para pé, com objectividade e marcar golos. Em casa foi um pouco diferente. Jogámos contra adversários em idêntica situação que a nossa, jogaram fechados, em contra-ataque, o que nos condicionou um pouco. Depois de um bom resultado fora de casa, a ansiedade de ganhar o jogo seguinte perante os nossos adeptos, complicou um pouco os nossos objectivos. Mas como as contas se fazem no final, conseguimos pontos suficientes para garantir atempadamente a manutenção. GOSTAVA DE CONTINUAR O TRABALHO -Há quem diga que blindou o balneário, constituindo também uma parte do sucesso… -O balneário nem sequer é fechado à chave. Houve sim dignidade, carácter, serenidade e disponibilidade. Tudo isto fez com que o grupo andasse para a frente. -Mas na retaguarda fica a ideia que teve sempre todo o grupo na mão. Foi uma vantagem para o sucesso? -Quando o grupo rema todo para o mesmo lado há mais probabilidades de sucesso. Não foi preciso marcar distâncias entre o grupo e o líder, porque tudo funcionou como um grupo, houve respeito por tudo e por todos. -Apostou também na juventude… -Entrei numa altura um pouco complicada, cujo objectivo era somar pontos. Mas nada quer dizer que a juventude não tivesse qualidade, aliás com os veteranos houve uma simbiose perfeita. Gosto de apostar nos jovens, dei oportunidade a todos, todos eles corresponderam ao que lhe foi exigido. -E agora, o futuro? -O futuro é já amanhã. Sou treinador de futebol, não específico de nenhuma divisão. Se calhar dou oportunidade onde termino o contrato. Gostava de continuar o meu trabalho aqui. Espero uma palavra dos dirigentes do Oliveira do Bairro. Não quer dizer que fique cá, vamos conversar. Manuel Zappa
Diário de Aveiro


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