O DIRIGENTE DESPORTIVO BENÉVOLO EM PERIGO

No futuro existirão ainda dirigentes com as características dos actuais voluntários, benévolos, sem receberem qualquer retribuição, sem possuírem um estatuto próprio e sem encontrarem qualquer reconhecimento “real” da parte do nosso governo ou da sociedade pelo seu trabalho? Pelo menos, desde o final da década de 40, que se profetiza, dramaticamente, o desaparecimento do dirigente desportivo benévolo. Será possível que a sua acção continue assente exclusivamente no entusiasmo, na generosidade, na militância, e em prejuízo material, familiar e pessoal? É inegável que o tratamento desta que questão é complexa e difícil, pois é o futuro do desporto que está em causa, assim como a evolução do associativismo. O dirigente associativo desportivo tem direito de esperar o reconhecimento da sua função, o respeito pelos seus direitos e os meios para poder actuar com correcção. A verdade é que nada, ou muito pouco disto, se exprime na realidade actual em termos satisfatórios. Pelo contrário, o dirigente desportivo benévolo caracteriza-se por viver num estado de incerteza e insegurança permanentes, que se opõem ao exercício minimamente eficaz da sua acção. Ao contrário daquilo que, normalmente, se pensa, a origem da crise está muito mais aqui do que nas dificuldades de adaptação. Esta situação é pressentida, de forma ambígua e polémica. Ambígua porque designa, frequentemente, uma realidade homogénea que, de facto, o não é; antes se caracteriza por uma grande diversidade de situações. Polémica, porque encontra pela frente uma forma diferenciada de entender e equacionar a situação histórico-social presente. Assim, instala-se a convicção que o voluntariado está ultrapassado, que a profissionalização é o único caminho capaz de garantir a vida associativa. Mas esta convicção choca com dois aspectos complementares da mesma realidade: é visível que a função benévolo, ainda que entendida de uma nova forma, é indispensável para que o associativismo preencha as funções para que foi criado, e a que procura dar plena realidade, e que constituem, afinal, a sua razão de ser na vida dos indivíduos e das sociedades. Além disso, a própria realidade impõe, inevitavelmente, uma conclusão que não se pode deixar de reafirmar: sem o dirigente desportivo benévolo, seja qual for o seu tipo ou espécie, é todo um plano da existência de um vasto grupo social que é afectado, provocando, com isso, um sério empobrecimento da sua própria existência. A “crise” do dirigismo associativo é real e poderá continuar a aprofundar-se se não forem tomadas medidas adequadas, quer por parte do Movimento Associativo, quer dos “Poderes” instituídos. O risco de desaparecimento dos dirigentes não é, por isso, um puro exercício teórico. Constitui uma realidade que ameaça o Sistema Desportivo, se a visão actual da sua gestão continuar a predominar. O Decreto-Lei nº. 152/91 de 23 de Abril, normalizou o Estatuto do Dirigente Associativo Estudantil, este Decreto-Lei deverá servir como procedente para que o nossa Lei de Bases do Sistema Desportivo, normalize com urgência o Estatuto do Dirigente Desportivo Benévolo. Assim não acontecendo, o voluntariado e toda a noção de gratuidade de acção, continuarão a viver sérias contradições no interior de uma comunidade estilhaçada em que a comunicação se exerce cada vez mais desumanizadamente e com maior dificuldade, numa comunidade desmembrada e atomizada, tudo isto, por falta de atenção e interesse dos que governam a Nação, porque olham constante e somente para o seu umbigo. Acácio Oliveira (Dirigente Desportivo)
Diário de Aveiro


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