FORAM MORTAS PELOS SEUS MARIDOS EM APENAS UM ANO

Pelo menos 39 mulheres portuguesas foram mortas pelos seus maridos em apenas um ano, segundo dados recolhidos pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) e divulgados hoje em Lisboa.

Através do "Observatório de Mulheres Assassinadas", um serviço da UMAR criado há dois anos, são identificados em notícias da comunicação social casos de morte ou de tentativas de homicídio de mulheres perpetrados pelos maridos ou ex-maridos, companheiros e namorados.

Hoje, na Rua Augusta, em Lisboa, elementos da associação abordaram mulheres e homens que passavam numa tentativa de divulgar estes números, chamando a atenção para a "grave situação portuguesa".

Muitos escusaram-se a aceitar os panfletos que falavam da morte de cinco mulheres por semana ou da violência doméstica que atinge uma em cada três mulheres, outros paravam e tentavam saber um pouco mais sobre o assunto.

De Novembro de 2004 a Novembro de 2005, o observatório compilou a morte de 39 mulheres e outros 46 casos de tentativa de homicídio.

Estes dados, segundo a presidente da UMAR, são apenas uma amostra da realidade portuguesa, uma vez que se refere apenas a casos noticiados na comunicação social.

"Estamos certas que esta não é a verdadeira radiografia do homicídio conjugal em Portugal", disse Elisabete Brasil.

O observatório, explicou, chama a atenção para o problema de uma forma ténue, através da imprensa, mas mesmo assim são "assustadores" quando comparados com um pais três vezes maior que Portugal como Espanha, onde morreram 57 mulheres.

"Falamos dos números, das mulheres que recorreram, das que pediram ajuda mas também temos de fazer voz das que não podem recorrer, das que já não podem fazer-se ouvir", disse.

Dos 85 casos recolhidos pelo observatório, 24 mulheres já tinham saído de casa ou abandonado o parceiro, representando 28,2 por cento.

Lisboa e Porto são os distritos com maior registo na imprensa de mortes, seguidos de Aveiro.

Relativamente às tentativas de homicídio, no Porto foram noticiadas 14, seis em Setúbal e cinco em Viseu.

Ainda segundo a UMAR, algumas tentaram refazer a sua vida numa outra cidade, foram perseguidas e executadas o que para a associação indica que não basta querer sair da relação para ficar livre dos maus- tratos.

Relativamente ao agressor, os dados revelam que 69 por cento eram os actuais parceiros destas mulheres e 21 por cento ex-parceiros.

Outras pessoas foram também vítimas nos ataques perpetrados a estas mulheres, nomeadamente quatro crianças, um das quais acabou por morrer.

Este ano, segundo Elisabete Brasil, verifica-se um aumento dos casos de tentativa de homicídio e uma diminuição de mortes.

Em 2003/2004, o mesmo levantamento feito pela UMAR registava 47 homicídios e 16 tentativas de homicídio.

Com a realização de uma acção de rua, a UMAR pretendeu encerrar a celebração do dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres (25 Novembro) numa iniciativa de maior proximidade com a população.

Por vezes, disse à Lusa uma das voluntárias da UMAR, é nestas acções que algumas mulheres, a viverem situações idênticas, apercebem- se que não estão sozinhas e que existem estruturas que as podem apoiar.

Elisabete Brasil refere mesmo que é preciso que as mulheres saibam que existem organizações e serviços do Estado que têm respostas para os seus problemas como é o caso das Casas de Abrigo ou dos Centros de Atendimento.
Diário de Aveiro



Portal d'Aveiro - www.aveiro.co.pt