PORTUGAL E O DESENVOLVIMENTO

Li há tempos num jornal que o “desemprego, dependências e pobreza foram identificados pelos portugueses como os maiores problemas das freguesias”.

Decorria o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza.

Como é usual, falou-se, então, deste candente problema e, de seguida, todo o mundo se calou.

Como se as consciências estivessem em paz, depois de se fazer o alerta sobre uma “reduzida capacidade de inovação” nas instituições de solidariedade social que povoam, e bem, um pouco, por toda a parte, o nosso País.

O estudo, realizado em 2003 afirmava que “há mais pobreza, mais analfabetismo, mais solidão dos idosos” quando se caminha do litoral para o interior.

No Centro do País, as preocupações são, por ordem decrescente, o desemprego, a droga, pobreza e alcoolismo.

Mas, sem surpresa, é mencionada a solidão, por mais de metade dos inquiridos. E não há nada que se compare, para pior, com a sensação de estarmos sós no mundo.

Que fazem as nossas freguesias, no meio destas dificuldades? Em muitas, não existe qualquer instituição de solidariedade nem quaisquer apoios às carências mencionadas.

Funcionam em função das necessidades que surgem no seu quotidiano. Reagem, quando e como podem, às dificuldades, muitas vezes, esperando os famigerados apoios do Estado.

Não existe uma cultura de prevenção.

Se as Juntas de Freguesia tentassem ouvir as suas populações, possivelmente, ficariam espantados com as ideias que surgiriam de apoio, de colaboração, de antecipação dos problemas. E quão diferentes, depois, seriam as vidas dessas pessoas, menos sós, mais participativas, preocupadas com o seu vizinho, ajudando em acções sociais (por exemplo, em empresas de reinserção ou recuperação de habitações), dando sentido à sua vida, que, como se sabe, é cada vez mais longa. E, felizmente, quando bem aproveitada. Para se ser “só”, falta o sentido, só há tormenta.

Recorda-me um poema que li há pouco, de um autor anónimo:

“Cantam rouxinóis na madrugada da minha mente entristecida”.

“Sinto-me um caminheiro na noite, deambulando como num rebanho afogado nos passos do pastor”.

“Sofro a ausência dos braços que me amavam, vejo em mim o poema inacabado pela musa desaparecida na obscuridade da noite”.

“Sou um trôpego andante, só e ferido de morte, espezinhado pelo fumo das madeiras velhas, enquanto o vento uiva, receando que o temporal desperte a minha tormenta”.

“Procuro qualquer lúcido flash que justifique a imobilidade sobre a cama fria, onde meu corpo repousa e meu coração bate de dor”.

Senhores mandantes das Juntas de meu País, sejam percursores de alguma boa inovação na vossa aldeia, procurem as gentes boas, que existem em todo o lado, para os ajudarem, colectivamente, no despertar da consciência adormecida para os males que todos padecemos.

António Lebre de Freitas*

*Engenheiro/Consultor de empresas
lebredefreitas@yahoo.com
Diário de Aveiro



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