A Dra. Ferreira Leite tem, ultimamente, insistido numa cruzada moralizadora dos investimentos públicos. Com razão, Manuela Ferreira Leite tem vindo a questionar as prioridades nos gastos da Nação, alertando para o endividamento excessivo que passaremos aos nossos filhos, se prosseguirmos em gastar o que não temos.
Recolocar esta questão numa altura eleitoral pode ser lido como aproveitamento demagógico mas, em minha opinião, não o é. Em qualquer tempo, é imperativo dos políticos ponderar entre o custo e o benefício, entre o fazer obras e investimentos que proporcionem vantagens produtivas ao País e aqueles outros que, embora possam trazer mais valias, possam ser adiados. Afinal, é apenas seguir um dizer antigo e popular e não ser "como o Zé do Bronze que ganha dez e gasta onze".
Ao ser-se contra investimentos como TGV entre o Porto e Lisboa, não estamos a fazer regredir o País nem a estragar o negócio a alguns construtores, estamos a poupar para poder reutilizar onde é preciso. E há tanta coisa onde gastar e dar emprego e trabalho às construtoras nacionais... Pena é que não haja uma estratégia nacional concertada, obrigando os empresários a esbanjar recursos em projectos que depois já não o são.
Mas se esta esclarecida visão relativamente aos investimentos tem absoluta razão de ser, o alienar receitas a longo prazo para usar de imediato ou o vender créditos ou activos ao desbarato é igualmente reprovável. Infelizmente, a Dra. Ferreira Leite, num passado recente, vendeu activos em nome do Estado para poder ajustar o orçamento.
Mas agora a moda é outra. Tal qual os clubes de futebol, que vendem antecipadamente as receitas de imagem por largos anos, alguns gestores locais antecipam receitas, que a crise lhes retirou dos municípios, vendendo ou concessionando activos a preços muito baixos para poderem continuar as obras a que se comprometeram eleitoralmente. Outros optam com a fuga para a frente do recurso ao crédito, adjudicando obras de retorno duvidoso e muitas vezes já duplicadas em concelhos adjacentes.
Em todos estes casos, estamos a comprometer a vida dos nossos filhos.
António Granjeia*
Director