domingo, 2 de Novembro de 2025  21:38
PESQUISAR 
LÍNGUA  

Portal D'Aveiro

Publicidade Prescrição eletrónica (PEM), Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica (MCDT), Gestão de Clínicas Publicidade

Inovanet


RECEITA SUGESTÃO

Ovos no Forno

Ovos no Forno

Coza os ovos em água temperada com sal, durante 10 minutos. Ao mesmo tempo, prepare os espinafres com queijo. ...
» ver mais receitas


NOTÍCIAS

imprimir resumo
12-11-2004

E o povo falou


Crónica da América

O povo falou e, quando o povo fala, não é preciso “pôr mais na carta”. Depois da guerrilha da longa e vitriólica campanha, chegou a hora do ajuste de contas. E os rivais de ontem baixaram as armas, apertaram-se as mãos e disseram palavras bonitas de consumo nacional.

É da praxe democrática que, após o prélio, os contendores ponham as armas de lado e digam ao povo que, seja quem for o timoneiro, é preciso que o barco da nação não se afunde. Bush e Kerry falaram-se pelo telefone e, como bons americanos, disseram o que é dito em tais ocasiões. Kerry felicitou Bush pela sua vitória e o Presidente felicitou Kerry, pelo esforço e convicção que pôs na sua campanha. Até aqui, tudo ok. Felizmente, não houve uma repetição do que aconteceu na eleição de dois mil. Desta vez, o sr. Bush ganhou com votos contados e não com o auxílio do tribunal.

Porém, as nações e a política são corpos vivos em constante movimento. Os democratas estão dando balanço aos motivos da sua derrota. A sua mensagem não conseguiu convencer a maioria dos americanos. Os temas por eles glosados não foram suficientes para levar à vitória. O desemprego, a guerra, os descontos nos impostos aos ricos, a oposição dos conservadores às pesquisas científicas, tudo isso parece ter caído em ouvidos de mau pagador.

Desta vez, a nação mostrou-se dividida ao longo das linhas da moral e da religião. Apesar do muro que se supõe extremar politica e religião, ultimamente, alguém está furando essa muralha e juntando as duas forças. E a táctica surtiu o efeito desejado. Carl Rove, o arquitecto da campanha de Bush, está de parabéns pelo sucesso da sua estratégia. Com a mobilização dos neo-conservadores da direita, dos evangélicos, do grande capital, do poderoso loby das armas, dos que se opõem às pesquisas com as células embrionárias, aos gays e ao aborto, a vitória estava garantida.

Depois, o país está em guerra, e existe aquele dito, de que não é bom “trocar de cavalo no meio do rio”. No entanto, o Presidente, que diz estar disposto a unir o país, não poderá fazê-lo facilmente.

A direita evangélica, segundo os observadores, vai pedir a recompensa pelo importante papel que desempenhou na reeleição do sr. Bush. Vai exigir uma emenda constitucional, proibindo o casamento de gays, vai pedir a abrogação da lei da livre escolha da mulher na questão do aborto, vai pedir uma política mais activa em defesa dos chamados valores familiares ou morais e a nomeação de juízes para o Supremo Tribunal, que representem esses valores. E as promessas de união do país terão de ficar em águas de bacalhau. O sr. Bush não tenciona ceder terreno aos pontos de vista liberais, defendidos pelos democratas. E a luta política não pode deixar de se reacender.

Um outro ponto controverso é o plano do Presidente, de reformar o sistema do Seguro Social. E esse foi um ponto que ele tocou, na primeira conferência de imprensa dada depois da reeleição. O plano prevê o investimento na Bolsa, de parte do dinheiro contribuído, agora para o Social Security. Porém, os economistas dizem que, retirando as contribuições dos empregados mais jovens, do fundo da segurança social, este terá um défice de cerca de três triliões de dollars e ficará sem capacidade para pagar a reforma e benefícios aos reformados mais velhos. No actual sistema, são os contribuintes jovens, que pagam para a reforma dos velhos. Mas se os novos forem permitidos de investir o dinheiro na Bolsa, de onde vão vir os fundos para pagar a reforma e os benefícios aos idosos? Este plano vai, decerto, causar grande controvérsia e reabrir o fosso das divisões partidárias.

Na politica internacional, não se sabe ainda que caminho o presidente tenciona seguir. No seu primeiro mandato, decidiu seguir uma política um tanto arrogante, sem a cooperação dos aliados tradicionais da América, e precipitou o país numa guerra desastrosa, com custos descomunais em vidas e fazenda. Acusam-no os democratas de ter sido imprudente e de ter utilizado informações apócrifas, que não correspondiam à verdade dos factos. Há quem diga que os planos de democratização do Iraque são demasiado ambiciosos para um país que nunca conheceu um regime democrático. Será que a sangrenta experiência do Iraque lhe ensinou alguma coisa?

Mas a nação falou e o sr. George W. Bush é o único presidente que nós temos. E só se deseja que ele siga uma política centrista, nem muito à serra nem muito ao mar. O grosso da nação é moderado e não gosta de extremismos, nem da direita, nem da esquerda. E que as religiões continuem a assumir o seu papel moralizador, sem interferirem demasiado no campo da governação política. Basta olhar o papel pernicioso que a religião, levada ao fanatismo, está representando nas nações muçulmanas. Foi esse fanatismo religioso, que gerou essa nova arma, tão perigosa como uma bomba atómica, chamada terrorista-suicida, contra a qual nada podem as bombas inteligentes, os canhões, ou os bombardeiros.

Estes, quase só matam inocentes e, muito raramente, algum terrorista descuidado. O exemplo da Inquisição, na Idade Média, e a perseguição das Bruxas de Salem, em Massachusets, são a prova da loucura sanguinária a que o fanatismo político-religioso pode levar. E não esquecer que também temos por cá os nossos fanáticos, que já têm feito bastante vítimas.

Manuel Calado*

Jornalista na América


ACESSO

» Webmail
» Definir como página inicial

Publicidade

TEMPO EM AVEIRO


Inovanet
INOVAgest ®