domingo, 2 de Novembro de 2025  15:44
PESQUISAR 
LÍNGUA  

Portal D'Aveiro

Publicidade Prescrição eletrónica (PEM), Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica (MCDT), Gestão de Clínicas Publicidade

Inovanet


RECEITA SUGESTÃO

Ovos no Forno

Ovos no Forno

Coza os ovos em água temperada com sal, durante 10 minutos. Ao mesmo tempo, prepare os espinafres com queijo. ...
» ver mais receitas


NOTÍCIAS

imprimir resumo
10-03-2005

Ideologia, protesto e senso comum


Pluralidade

O resultado das últimas eleições, inequívoco na sua expressão democrática, permite, a quem quiser, uma leitura livre e uma apreciação motivada, que pode ser não coincidente com outras, mormente as do aparelho partidário ou as de muitos jornalistas de opinião. Não me coíbo de o fazer também, que é sempre uma maneira de estar presente activamente aos acontecimentos, com um contributo que não compromete senão a mim próprio.

Como são partidos políticos rotulados os que concorrem ao acto eleitoral e não é permitido ao eleitor exprimir a sua opção senão dentro dessa linha limitada, a leitura dos resultados, se tem um óbvio sentido de vitória, não pode, porém, favorecer uma apreciação unilateral, que decide sobre a cor política do povo no seu conjunto. Bastam outras eleições daqui a uns meses, para se concluir que a grande maioria das pessoas não vota com base em razões ideológicas, mas com motivações ocasionais, determinadas por circunstâncias, acontecimentos ou simpatias pessoais.

A cultura política é pobre e pouco generalizada. Não vai muito além de grupos fechados que não dialogam senão entre si e, mesmo assim, mais com emoções do que com razões. Uma situação a reflectir e a inflectir.

É evidente que às facções políticas partidárias interessa fazer contas de resultados na óptica da sua cor e dos seus interesses, não se coibindo de falar uma linguagem em que, por vezes, nem elas acreditam. A noite de domingo e o rescaldo dos dias seguintes mostrou isso mesmo à saciedade, decretando que Portugal agora é de esquerda e insinuando que, quem não o é ou não o aceita, fica sem palco e razão para que possa querer continuar a ter opinião em contrário.

A democracia termina quando, não lendo a realidade, se impõe um sentido único e os vencedores decidem calar e subverter as opiniões de quem desfruta, aconteça o que aconteça, o direito pleno de cidadania, e não se aniquila perante uma qualquer derrota. Onde não há lugar, no dia a dia, para uma visão plural, impera o despotismo que divide, privilegia-se o clientelismo, empobrece-se a comunidade, desvirtua-se o poder. Os vencedores, quaisquer que eles sejam, não são donos do país, nem os derrotados se têm de resignar a ser cidadãos, que apenas se suportam.

Um sentido positivo da democracia é reconhecer e sublinhar os direitos, deveres, valores e contributo de todos, de modo a que cada acto estimule sempre mais a participação no acto seguinte.

Saber ler um acto eleitoral, como o que vivemos há pouco, não o reduzindo a uma simples opção ideológica, é prova de inteligência e de sensatez. É um facto que a maioria das opções expressas são de protesto, de senso comum, de esperança, de cansaço e desilusão. Isto em nada invalida o resultado final. Quem governar, porém, não o deve nem o pode esquecer.

António Marcelino*
* Bispo de Aveiro


ACESSO

» Webmail
» Definir como página inicial

Publicidade

TEMPO EM AVEIRO


Inovanet
INOVAgest ®