domingo, 2 de Novembro de 2025  10:53
PESQUISAR 
LÍNGUA  

Portal D'Aveiro

Inovasis Prescrição eletrónica (PEM), Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica (MCDT), Gestão de Clínicas Inovasis

Inovanet


RECEITA SUGESTÃO

Ovos no Forno

Ovos no Forno

Coza os ovos em água temperada com sal, durante 10 minutos. Ao mesmo tempo, prepare os espinafres com queijo. ...
» ver mais receitas


NOTÍCIAS

imprimir resumo
01-08-2005

Um coração à medida do oceano


Pluralidade

Encantam-me as pessoas com esperança, sonhos e projectos. Deixam-me triste as pessoas que desaprenderam de olhar mais longe e de se olhar a si próprias, perdendo a consciência da riqueza que lhes vai dentro e das capacidades à espera de um investimento que nunca chega. Na vida há de todos e cada um lá vai vivendo a seu jeito.

Fomos criados para ultrapassarmos, cada dia, a mediania de quem se contenta com pouco e a rotina de quem se dá por instalado.

Não vejo a educação a acordar a gente nova para horizontes sem fronteiras, nem a cultivar a vontade de ir sempre mais além, com a serenidade de quem sabe esperar e a alegria de quem sabe aproveitar.

Caiu-me debaixo dos olhos um poema de Marie-Annick Retif, que é uma leitura maravilhosa da vida, identificada com barcos de histórias diferentes. Uns que não saem do porto e aí enferrujam; outros que se esquecem de zarpar, com medo do mar tumultuoso; ainda outros tão amarrados que já nem sabem olhar apara além de si e apenas marulham para se sentirem vivos e seguros; barcos ao lado de outros que afrontam o temporal e se arranham nas rotas oceânicas onde os levam os seus manejos; barcos que regressam amassados, mas dignos e fortes e sempre iguais, ainda que o sol de anos os não tenha poupado?

A poetisa conclui, olhando barcos velhinhos, mas ainda e sempre vivos: “ Conheço barcos que transbordam de amor quando navegaram até ao seu último dia, sem nunca recolherem suas asas de gigantes, por terem o coração à medida do oceano.”

Num fim de um domingo de muitos contactos e trabalhos, uns que traduziam sonhos realizados e outros desejos de renovar o que o tempo pode ter envelhecido, parei num lar de pessoas idosas. Familiares saíam, leves e apressados, de uma visita de amor ou apenas de obrigação. Entrei. Veio-me ao espírito o poema dos barcos. Aquele salão pareceu-me, então, um porto amplo onde muitas vidas se haviam ancorado com o mistério que cada uma traduz, guarda e recorda, no silêncio de quem espera. Espera, de novo, uma visita que se repetirá daí a oito dias, um olhar que comporte afecto, um gesto que acorde vida, uma palavra que exprima amor?ou, apenas, mais uma noite longa cheia recordações e insónias que aviva muitas dores que nunca se irão confidenciar.

Mas há sempre gente que nunca recolhe as suas asas de gigante que teima em viver e continua a respirar o ar puro da esperança, que dá ao coração a medida dos oceanos. Vivos, sempre vivos quaisquer que sejam os anos, as dores, as desilusões. Será sempre indecifrável o mistério que se aninha silencioso no coração de alguém que alarga a vida sempre mais e empurra, para mais longe, os anos e os trabalhos que a desgastam.

Temos necessidade de penetrar, com proveito, no mundo dos idosos que sabem viver no outono da vida, em clima e ritmo ascendente! São vidas que transbordam de amor e enchem o mundo de sabedoria e de coragem.

António Marcelino*
* Bispo de Aveiro


ACESSO

» Webmail
» Definir como página inicial

Publicidade

TEMPO EM AVEIRO


Inovanet
INOVAgest ®